sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Amor de Verão



Composta em meados de 2008, Amor de Verão é uma reflexão sobre os relacionamentos amorosos na contemporaneidade. Em plena era da ficada, dos amores fulgazes, das festas inesquecíveis, das transas performáticas e das redes sociais da internet, ficou mais fácil ou mais complicado achar o grande amor de sua vida? Aliás, esse negócio de grande amor existe, mesmo?

Através da estética "axé-babá", predominantes nos melhores momentos do carnaval soteropolitano, combinando caidinhas "durvalelianas" e passagens "jammiliumanoitescas", Amor de Verão nos propõe um questionamento saudável, nem tanto existencial, mas provocador, sobre a tônica das paixões carnavalescas. Eis a letra:

Quando te encontrei

Mais linda do que o pôr-do-sol no Porto  | Sim, o mais belo da cidade, no Porto da Barra                                                                                                

Iluminou minha vida                                     

Começou de novo        | Referência ao ciclo passional, que às vezes se torna lugar-comum

Num barquinho eu e você          | Não são românticos aqueles barquinhos no Porto? hehe.

Viver só vale a pena se acreditar

Que jogar tudo pro alto é ser livre para amar  | Ressalta hedonismo do carnaval: Carpe Diem!

Essa é a levada do Amor                         

Todo mundo vai cantar    | Essa parte, bem manjada, traz à tona toda memória musical "axezeira"

É Amor ou Paixão?                            |    A grande indagação que permeia a música, 
                                                          |    sobre aperenidade das relações nesse intermitente 
Vai durar mais que o verão?              |    rio carnavalesco.A estação "praiera" serve como medida temporal                         |.                                                        |    para os encontros amorosos.
Ou será que o mar vai levar você de mim?|    O vai e vem das marés é uma metáfora interessante                     
                                                                |   para o vai e vem das pessoas em nossa vida.  
Foi bom enquanto durou


Agora acabou, estou indo embora      |    Remete ao fluxo turístico de pessoas que vêm a Salvador
                                                         |    curtir o carnaval e retornam logo depois às suas cidades.
Mas não vou deixar o Amor acabar   |
                                                         |    É para isto que existe Facebook: mantermos contatos,
Assim como a luz do farol não vai acabar |    mostrarmos o que curtimos, como queremos parecer
                                                               |   e desfilarmos nossas fotos mais bonitas nos status alheios.
Essa é a levada do Amor


Todo mundo vai cantar                  |    A música popular se vale de refrões grudentos e de fácil
                                                     |    deglutição para impregnar-se em nossos ouvidos.
É Amor ou Paixão?                       |    Não dá para fugir a essa parte da receita!


Vai durar mais que o verão?


Ou será que o mar vai levar você de mim?

Confesso que, em termos de Axé Music, gosto mais das músicas antigas de Luís Caldas, Asa de Águia; dos tempos áureos da Timbalada; dos grandes sucessos do Chiclete; e do "afro-ijexá-samba-reggae" de Olodum, Brown e outros. Amor de Verão segue uma tonalidade que remete aos melhores momentos do Asa, com uma dosagem irônica de lirismo sobre os amores carnavalescos. Um exercício musical da  baianidade dos compositores.

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Trans Tornado

Poema Imagético feito na época em que estudei o movimento concretista, em especial a tríade paulistana formada pelos irmãos Augusto e Haroldo de Campos e Décio Pignatari. Remete à idéia de Louis Pasteur de que, na natureza, nada se cria, tudo se transforma; estabelecendo assim um paralelo metalinguístico em relação à criação poética. Do problema, vem a urgência do poema, transmutada como se fosse por uma ventania.
Ao final de tudo, só nos resta ser pó.

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Micro Chips Potatoes

Chopp's lavam minh'alma

Back's pra me chapar

Esqueço de tudo: vou à Chapada

Ah, Microchips!

Me levam a qualquer lugar.


segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Nem Ligo...

O Romântico liga no dia seguinte

O Cafajeste, quando está afim

Romantizo cafajestices

Enquanto ela não liga pra mim

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Verdade Nua

A Verdade me veio nua

Pura e envergonhada

Feito uma moça virgem

Prestes a ser deflorada

terça-feira, 25 de outubro de 2011

A Verdadeira Poesia

Olhando para os livros sobre a estante: Drummond, Pessoa, Vinícius...

- Porquê os poetas são sempre assim, feios?

- Se eles fossem bonitões, não iriam perder tempo escrevendo tanta merda. Iriam direto ao ponto e comeriam todas mulheres que quisessem. Sem precisar escrever porra nenhuma.

- Será que um dia eu consigo escrever um livro?

- Sobre o quê? Salões de beleza e academia?

- Não, besta... Um livro de poesias, sobre meus sentimentos, sobre a vida...

- Você não sabe porra nenhuma sobre poesia.

Soltou os cabelos, moveu-se felina em minha direção e ameaçou me afogar naqueles belos olhos da cor do oceano. Linda.

- E você não sabe porra nenhuma sobre a vida!

Ela é a verdadeira poesia. A que todos os homem procuram.

domingo, 23 de outubro de 2011

Astrolábios





A mim, você não engana

Esses olhos de piscina

Calma d'água pisciana

Tempestades leoninas


Toda vez em que nos vemos

É como se estivesse em vênus

Toda vez em que 'cê parte

Eu queria ir a Marte

Eu fico sempre na vontade de você

Só quero lhe saber o gosto

Navegar no céu da boca

Encontrar os Astrolábios


Me guiar pelas estrelas para não

Passar mais uma noite a só

Eu me sinto um planeta

Orbitando ao seu redor

'Cê tem mais fases que a Lua

É tão difícil entrar na sua

Cada vez que me diz não

Eu me sinto em Plutão

Eu tento ser cara-metade de você

Me põe às margens do seu mapa astral

Nos detalhes do seu rosto

Encontrar os Astrolábios



Mais uma música. Posteriormente, colocarei o tradicional texto explicativo.

Se quiser dar uma olhada em outras sem precisar me esperar fazer o upload, eis:



domingo, 21 de agosto de 2011

Música, poesia e sacanagem: é o que mais me anima

Há coisas na vida que não têm solução

Mas, para todas, existe rima!

quinta-feira, 16 de junho de 2011

A solidão é muito cara

Mas a liberdade é impagável

sábado, 14 de maio de 2011

Ascendendo Espiritualmente

.Jesus, além de amor e perdão, cultivava dreadlocks incríveis. E ensinou aos cananeus, que apedrejavam um pobre rasta:
. - Aquele que nunca fumou, que atire a primeira ponta!... Digo, pedra!

domingo, 8 de maio de 2011

A MAIS

Lição n. 1:

Para se conquistar uma MULHER,
É necessário fazê-la sentir-se
A mais importante
A mais desejada
A mais querida
A mais especial
Ou, ao menos, sentir-se a mais deselegante
A mais odiada
A mais traída
A mais superficial

Na verdade, não importa muito o sentido do que você faz
Desde que ELA seja sempre A MAIS

por Pedro Paula, o Poeta da Persuasão

Poesia criada e lançada no Facebook, reproduzida aqui no blog. Não é que o formato de novas mídias interfere no processo de criação?

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Doce de Tamarindo




Não me deixa assim tão solto

Me abraça no seu corpo, vamos

Provar o fruto do pecado.

Delicioso doce amargo.


Nosso amor é tão gostoso

Tem sabor de azedinho

É pra chupar bem devagar

É doce de tamarindo


Se eu saio de repente

Tu esqueces que eu existo

Deixa outro pretendente

Sussurar ao seu ouvido


Vou mordendo pela polpa

Até chegar no caroço

Tirando sua roupa

Beijando sua boca

Lhe causando alvoroço


Nosso amor é tão gostoso

Tem sabor de azedinho

É pra chupar bem devagar

É doce de tamarindo



imagem: http://oficinafranciscodlafuenteguarany.blogspot.com/2010/08/tamarindeiro-as-margens-do-rio-corrente.html)


Textura cremosa, um toque adocicado e o azedinho que nos deixa com gostinho de quero mais: quem já provou doce de tamarindo sabe do que estou falando. Eu nunca havia pensado que um sabor tão ácido, adstringente, pudesse se tornar tão viciante, até conhecer essa fina iguaria, obtida pelo cozimento da polpa que reveste as sementinhas redondas encontradas dentro da vagem do tamarindeiro.

Árvore originária das savanas africanas e do sudeste asiático, em sua plenitude o tamarindus indica pode chegar aos 25 metros de altura, formando uma copa densa e ornamental sobre um tronco forte, resistente a pragas e cupins. Com suas flores de um amarelo-avermelhado selvagem, espalhadas em torno da vagem amarronzada de casca lenhosa, quebradiça, o tamarindeiro pode parecer um tanto agreste, mas é também uma planta que carregada de histórias e sensibilidade – suas folhas se fecham quando sentem frio.

O seu nome vem do latim tamarindus, que na verdade é uma adaptação do árabe tamr híndi (tâmara da Índia), prova de que seu sabor já rodou o mundo em forma de doces, bolos, sucos, licores e o que mais se puder inventar. No Sudeste Asiático, dizia-se que o tamarindeiro era morada de influências maléficas, sendo seu perfume, sua sombra e os objetos produzidos com seu tronco capazes de realizar proezas como dominar o mais temível dos inimigos. Aos amigos, pode-se oferecer a receita à qual me refiro; seria o seu néctar mais puro – tamarindo cozido em água e misturado com açúcar, resultando numa calda pastosa marrom de aspecto terroso e forte sabor agridoce.

Para se obter o máximo de prazer ao saboreá-lo, o doce deve ser tragado pelos lábios lentamente, num ritmo similar ao da cocada-puxa, e dissolvido pela língua com movimentos leves, de forma a espalhá-lo aos quatro cantos da boca, como tradicionalmente fazemos com o brigadeiro de panela – com alguma prática, estamos aptos para nos deliciar plenamente com essa explosão de sensações agridoces que invadem nosso paladar a cada colherada.

Certamente, seu sabor não é tão dócil quanto o de outros doces como banana, ambrosia ou ameixa, mas por quê o doce de tamarindo nos provoca tanto descontrole, seguidos de impulsos gulosos e salivação involuntária? É um mistério sem resposta, como o das paixões que volta e meia nos arrebatam de repente e nos fazem arder de febre, quando nós, mesmo sabendo que vamos sofrer, agimos como inconseqüentes e nos entregamos plenamente a um relacionamento fadado ao fracasso. Ou como as viroses pós-carnaval: todo mundo sabe que vai rolar, acha que “em mim não vai pegar”, curte pra caramba, e no final, quando a folia acaba, termina arrasado, mas satisfeito: “to f*, mas valeu a pena”. E o pior é que, geralmente, vale mesmo.

Por isso, aproveite o momento e chupe devagar o seu doce de tamarindo. Não deixá-lo solto vai evitar que algum pretendente invejoso venha sussurrar ao seu ouvido. Dance bastante, agarre o seu doce de jeito e siga o percurso: mordendo a polpa até chegar ao caroço, tirando a roupa e causando alvoroço (gostei de usar esse sinônimo inusitado para a excitação, e ainda encaixou bem na rima).

(fonte: http://bacalhaucombatata.blogspot.com/2009/11/frutas-por-onde-elas-andam.html)

O quarteto de rimas emparelhadas que abrem a canção podem ser classificadas como ricas em sua versificação, pois rimam palavras de classes gramaticais diferentes: solto (adjetivo) corpo (substantivo), pecado (substantivo) amargo (adjetivo). Também foi utilizado o recurso do encadeamento, quando a frase se inicia em um verso e termina no seguinte (Me abraça no seu corpo, vamos provar o fruto do pecado). Para terminar a estrofe, uma antítese “clássica”: delicioso doce-amargo.

O refrão e o ritmo remetem à malícia dos gêneros populares dançantes, como brega, arrocha, seresta e afins. “É pra chupar bem devagar É doce de tamarindo”: aproveitar o momento lentamente para prolongar o prazer (da dança, da degustação do doce ou do que mais você puder imaginar) é a idéia dessa metáfora.

No segundo quarteto, as rimas se tornam alternadas: “Se eu saio de repente (advérbio) Tu esqueces que eu existo (verbo) Deixa outro pretendente (substantivo) Sussurrar ao seu ouvido (substantivo)”, mas, justamente pela alternância, continuam ricas, entre advérbio substantivo e verbo substantivo.

Apesar de ser uma música popular, o refrão desta música não contém rima, e essa não foi uma decisão consciente. Apenas senti que a vocalização no final (o tradicional ô-ô-ô) e a simplicidade da idéia bastariam para atingir o efeito pretendido. A incorporação de vícios de linguagem, gírias e regionalismos dá o efeito de lingaguem “falada”, coloquial, muito presente nas músicas dedicadas massa. É importante que esses desvios da norma padrão se dêem de forma natural, encaixando suavemente na melodia e no contexto da letra, com humor e ironia, mas sem exagero, ou o que se obtém é um amontoado de gírias e clichês sem originalidade.

Enquanto as duas primeiras estrofes deixam sub-entendido que comer doce de tamarindo serve como metáfora para o desenrolar de certas paixões, as rimas alternadas da terceira estrofe escancaram a comparação: “Vou mordendo pela polpa Até chegar no caroço tirando sua roupa, beijando sua boca lhe causando alvoroço”.

A seqüência que percorre da polpa até o caroço descreve uma aproximação que começa mais suave, tirando a roupa, e vai até o mais intenso, causando alvoroço. Esse encerramento da canção, conotando uma aceleração na intensidade do toque, teve seu entendimento facilitado pelas rimas pobres entre substantivos (“polpa caroço roupa boca), que conduzem ao final a uma rima rica, com uma palavra mais inusitada (alvoroço). Esta seqüência evidencia a comparação: morder a polpa até chupar o caroço (na fruta), e tirar a roupa, beijar a boca, causar alvoroço (no ritual amoroso). A variação melódica com mi maior à sétima que ocorre nesta passagem e a inclusão de um verso a mais na métrica ressaltam a função da terceira estrofe de encerrar, dar um fechamento à idéia da música.

Mas, como muitas músicas que ouvimos por aí, Doce de Tamarindo não tem começo, meio e fim, e sim um refrão grudento ensanduichado por pensamentos pouco complexos e muito polivalentes. Simples como a receita do doce, mas capaz de provocar sensações intensas; se consumida em demasia, pode provocar enjôo e disritmia intestinal, mas, ainda assim, esta canção merece uma interpretação musicalmente bem mais sofisticada, digna do sabor requintado e selvagem do doce de tamarindo.



sábado, 8 de janeiro de 2011

O Seu Olhar




O Seu Olhar

D Bm7 G E∕G A7 D
o͡ + o͡ + o͡ + o͡ + Solo gaita 1
6 -6 6 -6 6 6 -7 -6 -7 -6

D F#m G
Percorrer estrelas em noite de luar
E∕G
E me perder nas curvas
A7 D
do céu em seu olhar
F#m G
Dizia o poeta: é preciso navegar
E∕G
Por sonhos mais distantes
A7 D
Terras do além-mar

D Bm
Nosso amor navegando
F#m
Sem olhar para trás
G
Quando eu oceano
D
O seu olhar é cais

D Bm
Flores da nossa terra
F#m
O seu olhar me traz
G
Nesses dias de guerra
D
O seu olhar é paz

Solo Gaita 1

D F#m G
Nascer, em seu olhar, o amanhecer
E∕G A7 D
Colore os caminhos do meu dia
D F#m G
Expõe outras lindas, suas formas
E∕G A7 Bm7
Me mostra onde está a poesia

Bm7 F#m
Você, o que eu preciso
G E∕G A7 D
Viver, não é preciso
D F#m
Ondanear ao bel sabor
G
O Destino é um menino
Gº A7
Brincando na imensidão azul do mar

D Bm
Nosso amor navegando
F#m
Sem olhar para trás
G
Quando eu oceano
D
O seu olhar é cais

D Bm
Flores da nossa terra
F#m
O seu olhar me traz
G
Nesses dias de guerra
D
O seu olhar é paz

Solo Gaita 1

Solo Gaita 2 - sobre a melodia do refrão

-7 -7 -7 -7 6 5
6 6 6 6 5 4
6 6 6 6 5 6
6 6 6 6 -6 6




Créditos

Música e letra de Pedro Paula. Utilizando gaita diatônica Hohner Golden Melody Tom G, suporte para gaita, violão Yamaha NTX 700. Gravado no programa Debut, num notebook LG R440. A imagem está fora de sincronia com o som devido à baixa resolução da WebCam do micro. Futuramente, gravarei em suporte de mais qualidade.


Comentários do Autor

A letra da música "O Seu Olhar" faz referência a dois grandes poetas da língua portuguesa: Luís Camões e Fernando Pessoa. O primeiro foi o cara que nos mostrou que a figura de linguagem que melhor descreve o amor é o paradoxo, em "Amor é fogo que arde sem se ver"; enquanto o segundo, colocou a navegação como metáfora para a criação poética. Disponibilizei os textos no fim do post, para ilustração.

O Eu Lírico da canção enxerga o mundo através dos olhos de sua amada. Como se os olhos dela pudessem re-transmitir a sublime sensãção de nos deparar com o céu estrelado, ou a lua, o nascer do sol, o mar; enfim, os fenômenos naturais que nos encantam por sua grande beleza e nos fazem sentir parte de um universo maior, que perpassa nossa existência e nos conecta com todas as outras criaturas capazes de compartilhar conosco essa coisinha insignificante que é a vida.

Em "Dizia o poeta: é preciso navegar por sonhos mais distantes, terras do além-mar", há uma referência direta à frase que Pessoa tornou famosa. Navegar é uma boa alegoria para os relacionamentos afetivos. Navegar rumo ao desconhecido, sujeito à imprecisão do acaso, é algo que nos assusta tanto quanto colocar o status de casado no orkut ou uma aliança nos dedos. Os navegantes são pessoas que nunca podem se deixar prender pelos seus medos.

No refrão, busquei palavras que soassem suavemente, enriquecidas com artifícios como a transformação de "oceano" em um verbo: "Quando eu oceano, o seu olhar é cais". Seria bonito, este verbo, "oceanear". E foi justamente ele que me inspirou a colocar "ondanear" no início da última estrofe. Também busquei fazer um jogo de palavras que soasse belo e simples, utilizando uma figura de linguagem conhecida como “Paranomásia”, a repetição de sons semelhantes em palavras com significados diferentes, como nas rimas “trás(advérbio) ∕ cais ∕ traz(verbo) ∕ paz”. As duas antíteses que encerram os versos do refrão em “Quando eu oceano, o seu olhar é cais” e também em “Nesses dias de guerra ∕ O seu olhar é paz”, mostram que o casal tem atitudes opostas que, porém, terminam por se completar na relação. Conforme o paradoxo amoroso do velho Camões: como um sentimento tão contrário a si mesmo pode constituir o mais pleno vínculo afetivo entre as pessoas?

Em “Ondanear ao bel sabor”, continuei meus neologismos com inspirações Brownlescas (tipicamente baianos e atrevidos), utilizando o começo de uma expressão como bel prazer (vontade própria, livre arbítrio) para recriá-la como “bel sabor”, como se o rumo da nossa vida navegante fosse uma mistura entre a nossa vontade e o sabor das águas, para onde as ondas nos levam.

Por fim, uma tentativa de criar uma bela imagem na cabeça do ouvinte: “O Destino é um menino brincando na imensidão azul do mar”, onde há inclusive uma variação à sétima na melodia que enfatiza o tom dramático dessa passagem. E afinal, se existem meninos chamados Justino, Aurelino e Firmino, porque não chamar o garoto brincando na imensidão sublime do mar, garoto este que é também o filho mais puro do amor entre as pessoas, de Destino?




Textos citados:

Amor é fogo que arde sem se ver

Amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer;

É um não querer mais que bem querer;
É solitário andar por entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É cuidar que se ganha em se perder;

É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata lealdade.

Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo Amor?

Luís de Camões


Navegadores antigos tinham uma frase gloriosa:

"Navegar é preciso; viver não é preciso".

Quero para mim o espírito [d]esta frase,
transformada a forma para a casar como eu sou:
Viver não é necessário; o que é necessário é criar.
Não conto gozar a minha vida; nem em gozá-la penso.
Só quero torná-la grande, ainda que para isso tenha de ser o meu corpo e a (minha alma) a lenha desse fogo.

Só quero torná-la de toda a humanidade; ainda que para isso tenha de a perder como minha.
Cada vez mais assim penso.
Cada vez mais ponho da essência anímica do meu sangue o propósito impessoal de engrandecer a pátria e contribuir para a evolução da humanidade.
É a forma que em mim tomou o misticismo da nossa Raça.

Fernando Pessoa

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Corpos ao solo
Rosto no colo
Mão nos cabelos a deslizar
Abre o botão
Fecha os olhos
Vem, menina
Vem me ninar

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Sopa de Letras

Preparei uma sopa com meus melhores discos
Para sentir o sabor das palavras de Chico

Caetano Velou presságios da Música Popular do Brasil
Repique nervoso, pandeiro ágil
SuinJorge Ben com Gilberto Agiu