segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

BACTÉRIA MADE IN USA


. Primeiro dia, primeiro emprego. Num prédio cinzento da Av Estados Unidos, recebemos nossa missão: retratar o Brasil com informações necessárias ao conhecimento da sua realidade. Equipado (crachá, mapas, panfletos, e um Palmtop maneiro), parti para campo, setor nas Ruas Arábia e Iraque/Vale das Pedrinhas. Trabalhei duro pra fechar a cota de entrevistas. Na saída da favela, três caras me abordaram. Li na faca que puseram no meu pescoço: MADE IN USA. Eu só tinha umas moedas. Implorei – bróder, pelamordedeus, esse Palm é da empresa, vale meu emprego... O líder olhou o material da pesquisa com desconfiança. Contou as moedas e falou
: – Man, não reclama, que tu tá melhor que eu... Agora, cata suas coisas e VAZA, BACTÉRIA!

Pedro Paula

Relembrando os tempos de IBGE. O texto acima vai sair na seção bactérias da Lupa 4, revista da FACOM/UFBa. A foto é num lixão em Quingoma, o bairro mais bizarro que já vi. Fica em Lauro de Freitas e as casas são de papelão, madeirite e pedaços de lata de tinta. Saudades de andar de bandeirantes 4x4, rally dos sertões em plena grande Salvador. Sinto falta de entrar pela casa das pessoas levando conhecimento e buscando informação e, sobretudo, da bufunfa na conta todo dia primeiro!

terça-feira, 30 de outubro de 2007

Red Martini



. Eu não conseguia parar de olhá-la. Absurdamente gostosa, o ruivo do seu cabelo quase apagava a luz pálida do bar. E chorava. Lindos olhos verdes, borrados e inchados.

: – Tá tudo bem?
: – Não, não é nada...
: – Como se chama?
. Relutou em responder. Insisti.
: – Aceita um drink?

. Pedi ao garçom para lhe trazer um Red Martini. Ela sorriu. Chamava-se Karen. Fisioterapeuta. Uns vinte e oito anos. Terminara um namoro havia dois meses, mas o cara se recusava a aceitar.
: – Acredita que ontem de madrugada ele chegou lá louco, berrando, me mandando abrir a porta? Nossa, o prédio todo ouviu! Só foi embora depois que ameacei chamar a polícia...
. Que filho da puta! Dei uns conselhos para se livrar dele. Ela se amarrou na minha psicologia. Conversamos um bom tempo. Até nos beijarmos. Lábios macios, molhados. Sedentos.
. Fui ao banheiro. Me ajeitei, lavei o rosto. Seria delicioso.
. Enquanto mijava, senti minha carne rasgada na altura do rim. Uma dor lancinante.
. Não sei quantas facadas foram. Poças de sangue e mijo.
: – SEU FILHO DA P...
. Antes que eu pudesse terminar a frase, minha vida escorria pelo ralo.