quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Mulher

a vida escorre por entre suas pernas
envolta em sangue
delírios do amor e da guerra
e nasce
flui do enlace
óvulo esperma
ou seria
consentimenteosfera?
.
não importa
a vida simplesmente brota
feito semente
o feto é forjado humano
pelo calor intra- ventre
até a poda do elo umbilical
quando a vida floresce gente
para o bem ou para o caos
.
e por mais que pareça estranho
ou seja apenas normal
eu passei a vida inteira tentando
voltar àquele infinito profundo das mulheres
onde somem se não todos os problemas do mundo
ao menos os de um homem
.
. Sair do interior da mãe, crescer, se desenvolver e tentar penetrar outras fêmeas: esse é o ciclo do ser humano masculino. A melhor coisa que um homem pode fazer é estar dentro de uma mulher. Amá-la e ter filhos talvez seja a única maneira de compensar o mal causado pela sua existência.
. Todo ser precisa destruir ou transformar algo para ser Vivo, mas a nossa espécie anda exagerando. Cônscios de nossas limitações, sabemos que a mudança leva tempo - algo cada vez mais raro - e o melhor a fazer é passar às gerações posteriores ensinamentos para uma coexistência melhor. Tudo parte da fluência da Vida, essa entidade superior que pôs um micro-chip em cada um de nós, fazendo com que nos atraiamos ou não uns pelos outros. Quando o parafuso certo encontra a porca certa, uma engrenagem funciona corretamente na máquina da Vida.
. Mas demora pra acontecer. Às vezes, é um ritual: nos conhecemos, saimos, transamos, namoramos, brigamos, depois voltamos, casamos, tentamos enlouquecer uns aos outros, e, caso não consigamos, nos considerando preparados o suficiente para cuidar de uma nova vida, damos umas fodas bem-feitas e nasce um bacurizinho pra gente cuidar. Ou não, podemos fazer como o casal de mendigos que certa noite se enrolou num cobertor de lã e transou sob a luz da lua no jardim do quartel, no Largo dos Aflitos, detrás da igrejinha: simplesmente fodemos e nove meses depois a porra nasce. Esta cena dos mendigos foi uma das coisas mais bonitas que eu já vi na minha Vida.
. E tem quase nove meses que não toco nesse blog. Precisamente, oito. Não sei se por falta de tempo ou vontade. Minha vida mudou muito durante esta ausência, mas posso dizer que continuo o mesmo. Exceto por ter perdido o hábito de escrever no blog, retomado nesse exato instante como um regresso ao velho EU, aquele que só ia à faculdade tocar um violão na varandinha, passava tardes de besteira, comendo e fumando com meu amor, ou jogando videogame com a galera da rua. E não tinha nada mais importante pra fazer além disso.
. É claro que não faço mais nada disso, quem me conhece sabe que não tenho tempo. Trabalho o dia todo e venho no ônibus pensando no que vou escrever antes de dormir, quando chegar da academia. Substituí o cigarro pela malhação e a saúde agradece. Mas continuo com o velho vício da escrita, que, infelizmente, é filha do ócio e prima do cigarro, embora não possa mais conviver com o restante da família. Escrevo tarde da noite, depois que todos vão dormir, como quem fuma um cigarro escondido no escuro da varanda. Ou faz amor no Largo dos Aflitos, sob a luz da lua e um cobertor maltrapilho.